sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

a história de Toninho, fato verídico acontecido na Casa do Estudante na rua da Areia João Pessoa, no ano de 1974

A história de Toninho

autor: João Vanildo

Foi no ano de 74
Que tudo começou
Na rua da areia
No sonho de ser doutor
Na casa dos estudantes
Toninho ali chegou
II
Vindo do interior
Com destino a capitá
Sem mesada sem parente
Que podesse lhe ajudar
Apenas trazia o sonho
De poder estudar
III
Uma vaga no Lyceu
Tratou logo de arrumar
Fez alguns camaradas
Pra vida facilitar
Nem se quer lhe convidavam
Pra suas casas lanchar
IV
A vida era difícil
Diferente de seu lugar
Por mais pobre que seja
Não se deve negar
Um prato de comida
A quem necessitar
V
Duas refeições por dia
Lanche nem vê falar
Na fase de crescimento
Imagine a fome que dá
E Num cabra bem nutrido
Não é bom nem lembrar
VI
A coisa foi apertando
E Toninho a imaginar
Lembrando dos seus
Será que vou suportar
Só duas refeições diárias
E muito lição pra dá
VII
No quarto que morava
Tinha super lotação
Era para quatro redes
Só dez dormiam no chão
Se não fosse comportado
Se metia em confusão
VIII
Logo cedo ia pra fila
Esperar a refeição
Isto é, no dia que tinha
E se demorasse então
Ficaria com fome
Não tinha apelação.
IX
Já chegando as ferias
Um ano já se passava
O pior estava por vir
Era a casa que fechava
E nas bandas do sertão
A seca quem dominava
X
As ferias no Sertão
Só iria complicar
Aumentar o sofrimento
O pouco de refeição
Com seus seis irmãos
Ainda tinha que rachar
XI
Toninho ficava triste
Somente em pensar
Com a casa fechada
Como iria passar
A dormida tudo bem
De que ia se alimentar
XII
Chegando as férias
Esestudantes a esperar
Pra voltar pra suas terras
Pra poder se esbaldar
E Casa fechada nas férias
Como Toninho ia passar
XII
Foi no ponto de cem Reis
No centro da capital
Que Toninho de tanta fome
Chegou a passar mal
Mas foi no bar de Luiz XV
Que passou o seu Natal
XIV
Numa noite de tristeza
De indecisão na vida
Falando com Luiz XV
Em busca de guarida
Pediu pra lavar os pratos
Em troca de comida
XV
Luiz XV desconfiado
A proposta aceitou
Muitos pratos na tenda
Mas Toninho enfrentou
Só pensando na comida
Depressinha ele lavou
XVI
No dia seguinte
Toninho cedo ali chegou
Pra repetir a dose
Mas Luiz XV não aceitou
Sem saber se era verdade
O que Toninho lhe contou
XVII
Toninho ficou triste
A fome a lhe apertar
Pediu em nome de Deus
Pra Luiz XV aceitar
Porque se preciso fosse
Teria até que roubar
XVII
A conversa dos dois
Difícil de acreditar
Pra que tanto sacrifício
Apenas pra estudar
Sonhado ser doutor
Só pra família ajudar
XVIII
A conversa de Toninho
Luiz XV convenceu
Mas algumas regras
Logo estabeleceu
Uma hora lavando prato
Pra ter direito o seu
XIX
Dalí saia as pressas
Com destino ao Lyceu
Sonhando ser doutor
Que aos pais prometeu
Com a refeição garantida
O mais difícil venceu
XX
Com a Assistente social
Toninho foi falar
Escutando sua história
Difícil de acreditar
Respondeu com precisão
Tudo a lhe perguntar
XXI
Onde Toninho morava?
Disse é na rua da Areia
Na casa do estudante
Mas parece uma cadeia
Pela super lotação
Se vacilar entra na peia
XXII
A assistente social
Caiu de compaixão
Na história de Toninho
Quando lhe disse então
Que uma hora de prato lavado
Lhe valia uma refeição
XXIII
Quando disse onde dormia
Foi difícil acreditar
A assistente social
Começou logo a chorar
Com pena de Toninho
Foi logo lhe convidar
XXIV
A assistente social
Com carinho a lhe falar
Essa vida desumana
É difícil acreditar
Um rapaz tão bonito
Como pode suportar
XXV
Ele lhe respondeu
Não tenho jeito a dar
Foi o única jeito
Que encontrei
Para poder estudar
XXVI
Ela disse rapaz
É triste a sua situação
Eu moro sozinha
Num enorme casarão
Nos fundos tem um quartiho
Está a sua disposição
XXVII
Quanto à refeição
Eu não tenho jeito a dar
Se agüente mais um pouco
Que eu vou arranjar
Um empreguinho pra você
Para tudo melhor
XVIII
Não pensei duas vezes
Se o convite ia aceitar
Já foi logo perguntando
Quando posso me mudar
Pra sair daquele quarto
Que não tinha mais lugar
XXIX
No dia seguinte
Trouxe a sua mudança
A rede velha e um lençol
Muita fé e esperança
Só pensando em estudar
Quem tem fé em Deus alcança.
XXX
A sua vida
Começava a mudar
Nos fundo da garagem
Onde foi se estalar
Era um paraíso
Pra quem sonha estudar
XXXI
A assistente social
Dona do casarão
Morava sozinha
Pra lhe deixar a refeição
Vinha duas vezes por dia
Um elegante cidadão
XXII
A dona do casarão
Era muito elegante
Pelas suas vestimentas
Era de família importante
Nada a se comparar
Com sua vida de estudante
XXXIII
Passaram-se alguns anos
E Toninho a estudar
Concluído seus estudos
Começava a trabalhar
Sua vida mudava de rumo
Não tinha de que reclamar
XXXIV
O respeito é à distância
Com assistente social
Toninho ouviu um grito
Era Sexta de Carnaval
Pensou logo que era ela
Que estava passando mal
XXXV
Ela gritava por Toninho
Dizendo tem um ladrão
Toninho tome cuidado
Foi lhe pegando a mão
Colocado no seu peito
Encima do coração
XXXVI
A velha tremia toda
E Toninho desconfiado
Logo imaginou
Que tinha algo errado
A velha se acalmou
Com Toninho agarrado
XXXVII
O perfume era francês
A camisola de cetim
O respeito de Toninho
Parecia não está afim
Pensava na mordomia
Daquele nobre cantinho
XXXVIII
Toninho resistindo
Pensando não encarar
O fogo da velhota
Mas quando ouviu ela falar
Ou dorme aqui comigo
Ou trate de se mudar
XXXIX
Não havendo escolha
Naquela situação
Baixou o fogo da velha
Na maior curtição
Regado ao vinho do porto
Foi festa no casarão
XL
No dia seguinte
Foi difícil de encarar
Aquém devia respeito
Como iria enfrentar
E a velha toda feliz
Não para de cantar
XLI
Toninho tocou a vida
Com naturalidade
Continuou no seu cantinho
Feito um bicho acuado
Baixava o fogo da velha
Quando era convocado
XLII
Um dia como de costume
Saia pra trabalhar
Não ouviu qualquer barulho
Nem deu pra desconfiar
Só na hora do almoço
É que vieram notar
XLIII
Que a velha tinha morrido
De ataque de coração
Toninho preocupado
Com medo de acusação
De ter matado a velha
Pra ficar com o casarão
XLIV
Foi na delegacia
Atendendo intimação
Com medo de ficar preso
Por alguma acusação
por ter matado a velha
De amor e de paixão
XLV
Um Bom tempo se passou
E Toninho a se preocupar
Só pensava em deixar
Aquele excelente lugar
Que lhe foi oferecido
Apenas pra estudar
XLVI
Uma manhã muito cedo
Quando ia trabalhar
Chamaram pelo seu nome
Era para lhe intimar
Pra comparecer na Justiça
Dizendo a hora e lugar
XLVII
Toninho ficou com medo
Sua língua a embolar
Suas pernas a tremer
Mas tinha que encarar
Que não deve não temo
Por isso vou enfrentar
XLVIII
Pra falar com tabelião
Por que fora intimado
A surpresa era tamanha
Ficou desconfiado
Quando ouviu o TESTAMENTO
Quase cai emocionado
XIL
Além do casarão
Mais um carro usado
Umas jóias na caixa
Dois terrenos bem valorizado
Uma poupança recheiada
Pra seu nome era passado
L
Toninho é realizado
Cumpre sua missão
Morando na fazenda
Que trocou no casarão
É muito agradecido
A quem lhe deu a mão
LI
Realizou o seu sonho
De poder se formar
Continua trabalhando
Para a vida prosperar
Que é Perseverante
Nunca se arrependerá

Nenhum comentário:

Postar um comentário